quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

O vazio da amnésia histórica: Patrimônio perdido em São Leopoldo (RS)


A luta da sociedade civil em defesa do patrimônio cultural é árdua. Atuamos num universo de aridez, de falta de perspectivas e num mar de indiferença.

Após apresentar uma grande vitória, o tombamento do Salão Holler, o Memória Drops traz o outro lado, aquele da luta perdida.

A Casa da Praça 20 de Setembro em São Leopoldo foi uma das primeiras tentativas de atuação da oscip Defender no Vale do Sinos. O mau estado de conservação desta edificação já sensibilizava grande número de leopoldenses - afinal, a casa situava-se em esquina de grande destaque na paisagem urbana do município.

Mas o desabamento parcial, a partir da segunda metade de 2011, alertou para a urgência de uma proteção. A casa começou então um período de lenta agonia, que duraria um pouco mais de dois anos.

Um abaixo assinado foi iniciado pela Defender, com mais de 500 assinaturas, em que se recolheu assinaturas nas ruas, universidades e ainda na internet. Tais assinaturas foram entregues a Prefeitura Municipal e a Promotoria do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul em São Leopoldo, solicitando ações imediatas para a preservação do imóvel. 

A Prefeitura Municipal e o MPE comprometeram-se em buscar uma solução para a preservação deste imóvel. O inquérito civil gerou um processo judicial que correu por estes dois anos. Houve ainda o lançamento de uma nova legIslação municipal de patrimônio em 2012, que mantinha a casa na lista de proteção. Infelizmente, no final de 2013, a acelerada degradação do bem serviu como justificativa para um "acordo" que permitiu sua final destruição, ao invés da restauração do que havia se perdido.

Infelizmente, apesar de toda legislação de respaldo ao patrimônio cultural e do envolvimento da comunidade, a casa da Praça 20 tornou-se apenas memória - um triste capítulo da trajetória do patrimônio cultural daquela que se diz cidade "Berço da Imigração Alemã no Brasil".

Perdemos, mas perdemos lutando.


Saiba mais:
Link do baixo assinado na sua versão virtual promovido na época
Artigo sobre a Casa da Praça 20 da época do abaixo assinado
Processo judicial envolvendo a casa.

As fotos utilizadas são de autoria de Sergio Matte (casarão) e Daniel Boeira (casa já demolida).




Salvo pelo gongo, Salão Holler agora é Patrimônio Cultural tombado do Estado do Rio Grande do Sul em Ivoti (RS)


O Rio Grande do Sul quase perdeu um dos exemplares de enxaimel mais relevantes de todo o território estadual: o Salão Holler foi construído em técnica enxaimel, típica da imigração alemã.
O Salão impõe-se na paisagem da Av. Presidente Lucena, o travessão através do qual a colonização de Ivoti foi realizada. Tem uma impressionante estrutura de madeira - com um pilar interno em madeira torneado, elemento bastante peculiar, e telhado em telha canal, cujos beirais são guarnecidos de cimalhas de madeira maciça. Foi um dos exemplares arquitetônicos estudados pelo arquiteto Gunter Weimer em seu clássico estudo sobre a arquitetura rural teuto-brasileira.

A comunidade, embora sensibilizada, assistia passivamente a demolição deste inestimável imóvel, em pleno desmanche e destelhamento para demolição. Felizmente a casa foi "salva pelo gongo" e a demolição embargada graças a ação rápida de dois delegados da oscip Defender - Cristiano de Brum e Alexandre Reis, no dia 17/06/2013. Ambos fizeram vigília no local, uma bateria de reuniões em que conseguiram sensibilizar a Prefeitura Municipal e a Promotoria Ministério Público e principalmente, obtiveram o apoio do IPHAE-RS - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual, através do seu então diretor Eduardo Hahn.

O IPHAE-RS, sabendo da urgência de uma medida protetiva, rapidamente envolveu-se na questão do Salão e instaurou o processo de tombamento estadual. Com o andamento dos estudos, finalmente foi publicado em janeiro de 2014. Trata-se do primeiro imóvel construído em técnica enxaimel relativo a imigração alemã tombado como patrimônio cultural pelo Estado do Rio Grande do Sul. 

Portaria nº 001/2014
O Secretário de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul, no uso das atribuições conferidas pelo art. 90, V; art. 221, V, alíneas “d” e “e” e art. 222 e seus parágrafos, da Constituição do Estado, e fundamentando- se pela Lei 7.231, de 18 de dezembro de 1978, combinada com o Decreto-lei n.º 25, de 30 de novembro de 1937, considerando a necessidade de preservar o patrimônio cultural do Estado e a importância de preservar os remanescentes do Salão Holler, no município de Ivoti, corroborado nos autos do Processo Administrativo nº 1917-1100/13-2, tendo como base o Parecer Técnico IPHAE N.° 34/2013, RESOLVE tombar toda a edificação original do Salão Holler incluindo a estrutura enxaimel original, a modenatura das fachadas e vãos, as esquadrias originais, a cobertura e estrutura de todos os elementos originais do edifício que caracterizam, qualificam e permitem a leitura arquitetônica da técnica construtiva. Publique-se no Diário Oficial do Estado. Ratifique-se e registre-se no respectivo Livro Tombo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado. Promova-se a averbação no Registro de Imóveis competente.
Fonte: Diário Oficial do Estado, 13 de janeiro de 2014, página 45.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O traçado urbano de Erechim (RS)

Erechim na década de 50

O plano urbanístico de Erechim foi concebido em 1914 pelo Eng. Carlos Torres Gonçalves. O projeto baseia-se claramente no urbanismo barroco, e nas intervenções Haussmanianas procedidas em Paris.

Uma praça foi concebida como coração do traçado urbano - a Praça Cristóvão Colombo, de onde irradiam as avenidas diagonais. O local impôs-se como espaço simbólico político, administrativo e religioso. Além da “Comissão de Terras” instalam-se ali  a prefeitura, a catedral e o fórum.

Erechim é um interessante exemplar de povoação planejada por iniciativa estatal no Rio Grande do Sul. Projeto urbano que merece ser preservado em todas as suas características estéticas e funcionais.

FONTE: FÜNFGELT, Karla. AS TRANSFORMAÇÕES DA PAISAGEM DA ÁREA CENTRAL E A FALTA DE PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA URBANA DA CIDADE DE 
ERECHIM(RS) 



domingo, 23 de fevereiro de 2014

A casa do farmacêutico Wolffenbüttel em São Leopoldo (RS)


Exemplar remanescente das construções ecléticas do século XIX, a residência de Leopoldo Wolffenbüttel foi construída em 1928 para o farmacêutico diplomado e sua esposa Malvina (Blauth) Wolffenbüttel. 
Leopoldo era filho de Henrique Wolffenbüttel, fundador da farmácia “Deutsche Apotheke”, inaugurada em 1869. Assumiu o negócio com a morte do pai, em 1897. A farmácia situava-se inicialmente na rua Independência, n° 40, e no local eram comercializados medicamentos importados da Alemanha e também produção local. O antigo prédio, citado como uma “das casas mais antigas de São Leopoldo” em jornal de 1934, também chegou a abrigar uma fábrica de licores e vinagres.
De família abastada, com tradição na área da saúde e com o sucesso comercial de seu negócio, Leopoldo Wolffenbüttel construiu na mesma Rua Grande de sua farmácia sua uma grande residência, inaugurada em 1928. A farmácia mudou-se, também, para novo endereço em frente a esta residência: Rua Independência, 321. Provavelmente devido a campanha de nacionalização promovida pelo Estado Novo, sua farmácia deixou de chamar-se Deutsche Aphotheke (“Farmácia Alemã”) para ser denominada pelo sobrenome da família, Pharmacia Wolffenbüttel. 

A casa Wolffenbüttel aparece ainda com seu uso original em fotografias da década de 60. Foi a partir de data ignorada convertida em salas comerciais e alugada, tendo sido ocupada nos últimos anos pela joalheria Passini. Após, foi ocupada pelo comitê eleitoral do Partido dos Trabalhadores (PT) na eleição de 2012. Foi iniciada sua demolição em 2013, embargada pelo MPE - Ministério Público Estadual após posicionamento do IPHAE-RS, solicitada pela oscip Defender.
Infelizmente com a ausência de políticas municipais de patrimônio cultural, e de critérios fixos de preservação, a casa passa por uma reciclagem bastante severa e, descaracterizada, pouco restará da importância que teve.

Fontes pesquisadas:
Kalender für die Deutsche in Brasilien 1907 – Siebenundzwanzigfer Jahrgang. São Leopoldo: Editora Rotermund, 1907.
Kalender für die Deutsche in Brasilien 1912– Verlag von W. Rotermund. São Leopoldo: Editora Rotermund, 1912,
Correio de São Leopoldo. Ano II nº 96 1º de Maio de 1934. (Acervo do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo) Correio de São Leopoldo. Ano V nº 212 02 de Outubro de 1936. (Acervo do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo)
Correio de São Leopoldo. Ano X nº 508 23 de Julho de 1942. (Acervo do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo)
MOEHLECKE, Oscar Germano. São Leopoldo era assim – o passado pela imagem. São Leopoldo: edição própria, 1982.
MORAES, Carlos de Souza. Crônicas de Minha Cidade: São Leopoldo. São Leopoldo: Editora Unisinos, 1996. PETRY, Leopoldo. São Leopoldo. Volume II. São Leopoldo: Editora Rotermund,1966. -Ficha de levantamento Projeto Revita II – Unisinos. 2011.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

A Santa Casa de Misericórdia de Arroio Grande (RS)


A fundação da Santa Casa de Misericórdia de Arroio Grande deu-se no dia 15 de março de 1930, tendo por fundadores o Cel. Francisco de Paula Alves e os srs. Aimone Carriconde,  Dionísio de Magalhães e Otacílio da Silva.

A administração do hospital mostrou-se muito mais difícil do que o concebido num primeiro momento, e por este motivo em junho de 1944, após acerto entre a Prefeitura e a Congreção das Irmãs da Congregação do Imaculado Coração de Maria, a gestão passou às religiosas, que também ocuparam-se da enfermagem.

No local, exerceram a medicina os dr. Dionísio de Magalhães, dr. Duarte Pacheco, dr. Rasmussem e dr. José Karam, cujos nomes ainda são lembrados pela comunidade arroiograndense.

Com ampliações, o prédio original sobreviveu ao tempo.

Fonte da imagem e informações: Livro Uma Vida e Uma Obra - 1º Centenário da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria. 1849-1949


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

São Leopoldo (RS) e o rio dos Sinos


Nesta imagem da década de 1970, é possível ver a cidade de São Leopoldo ainda em uma relação bastante saudável com o Rio dos Sinos.

O conjunto arquitetônico da antiga Unisinos, a igreja Nossa Senhora da Conceição e o prédio modernista construído para Mercado Público, mas utilizado como rodoviária, destacam-se às margens das águas do rio.

Como eram frequentes os problemas de enchente no centro da cidade, foi posteriormente construído um dique nas margens do rio. Devido a forma que foi projetado, sem prever alternativas de circulação e acessos, acabou divorciando a cidade do rio. Um parque chegou a ser proposto nas áreas adjacentes ao rio recentemente, buscando resgatar esta relação, mas não há  nenhuma perspectiva de que seja executado.

Fonte da imagem: Revista Rua Grande Especial 150 Anos Depois. 1824-1974.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A demolição da antiga igreja de Erechim (RS) - 1969


A imagem apresenta a antiga Igreja de São José, de Erechim (RS) sendo demolida no ano de 1969.

A igreja havia sido construída entre 1927 e 1935, e, da inauguração até a demolição, durou apenas 34 anos. Havia sido construída de frente para a avenida principal da cidade, com a antiga Casa Canônica voltada para a praça.

O novo projeto que a substituiu pretendia marcar mais presença da então já Catedral de São José na paisagem. A nova Catedral pouco contribuiu positivamente, uma vez que sua arquitetura é bem menos relevante que a da antecessora.

A perda da antiga igreja é até hoje lamentada na cidade.

Fonte: Acervo Federação Vêneta La Piave Fainors




quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Antigo Grupo Escolar de Sapiranga (RS)


A imagem, datada de 1934, mostra a edificação do "Grupo Escolar de Sapiranga", localizado na atual cidade de Sapiranga (RS). Tratava-se de prédio alugado para esta finalidade, localizado na atual rua Carlos Biehl.

Trata-se de um dos grupos escolares constituídos em alguns dos pequenos núcleos urbanos das antigas colônias alemãs, até então pertencentes a São Leopoldo (RS). Na ocasião também constituíram-se escolas públicas semelhantes em Campo Bom  e Arroio da Bica, sob a administração do Coronel Theodomiro Porto da Fonseca. Em muitos casos a construção do prédio, doação do terreno ou aluguel foi providenciada pela própria comunidade local, em contrapartida ao investimento estadual na manutenção de professores.

O Grupo Escolar de Sapiranga foi inaugurado em 12 de Outubro de 1934. Mais tarde, em 1937, a instituição foi rebatizada para Grupo Escolar Genuíno Sampaio, gerando a atual Escola Estadual de mesmo nome.
FONTE: Relatório de 1934 apresentado ao Exc. Snr. General Interventor Federal Dr. José Antônio Flores da Cunha pelo Prefeito Theodomiro Porto da Fonseca. São Leopoldo: Editora Rotermund, 1934.

A antiga entrada de Esteio (RS)



A entrada do município de Esteio (RS) era marcada por dois marcos de linhas modernas: o prédio da Prefeitura Municipal e o pórtico, um arco em concreto armado com os dizeres "Benvindo Seja".

O conjunto foi por muito tempo o principal cartão postal da cidade. Com a chegada da linha da Trensurb na década de 70, o arco acabou perdendo sua importância, ficando colado numa mureta de concreto junto a Estação Esteio.

Fonte da imagem: Marilessa Rodrigues / Grupo Esteio Fotos Antigas no Facebook