quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

São Leopoldo (RS) e o rio dos Sinos


Nesta imagem da década de 1970, é possível ver a cidade de São Leopoldo ainda em uma relação bastante saudável com o Rio dos Sinos.

O conjunto arquitetônico da antiga Unisinos, a igreja Nossa Senhora da Conceição e o prédio modernista construído para Mercado Público, mas utilizado como rodoviária, destacam-se às margens das águas do rio.

Como eram frequentes os problemas de enchente no centro da cidade, foi posteriormente construído um dique nas margens do rio. Devido a forma que foi projetado, sem prever alternativas de circulação e acessos, acabou divorciando a cidade do rio. Um parque chegou a ser proposto nas áreas adjacentes ao rio recentemente, buscando resgatar esta relação, mas não há  nenhuma perspectiva de que seja executado.

Fonte da imagem: Revista Rua Grande Especial 150 Anos Depois. 1824-1974.

3 comentários:

  1. Existe algum registro desta proposta de parque na orla do rio, onde posso encontra-lo?
    Grato

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  2. Em decorrência das enchentes de 1941 e 1965, o Rio dos Sinos ficou famoso e voltou a chamar atenção na década de 70 pela construção do Sistema de Contenção contra as Cheias (composto por diques de terra, casas de bombas, cortinas e muro de proteção), na cidade de São Leopoldo. Esta obra, gerenciada pelo Departamento Nacional de Obras e Saneamento, embora com boas intenções, fez também com que a cidade perdesse seu contato com o Rio, mantendo-o prisioneiro em um pequeno espaço, enquanto seus banhados – termo regionalista utilizado no Sul do Brasil para designar as áreas úmidas – eram ocupados indiscriminadamente por construções irregulares (ou até mesmo de forma “legal”).

    Se você conversar hoje com um idoso do município, certamente lhe falará que as margens do rio eram um belo ponto de encontro para casais apaixonados que, em harmonia, contemplavam-no em seus momentos de lazer. Ali, também, ocorriam regatas, lavava-se a roupa, abasteciam-se as residências (que ainda hoje são abastecidas), além de ser o meio de chegada para mercadorias e pessoas. Pessoas, estas, trazidas através de barcos pelo rio e que, ao invés de conservá-lo, acabaram por contribuir para sua degradação, desmatando sua vegetação ciliar e lançando, ali, seus resíduos e efluentes.

    Abastecidos por suas águas, já em 1941 o Rio dos Sinos recebe sua primeira Estação de Tratamento de Esgoto – construída pelo Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (SEMAE) e reconhecida como a pioneira do Estado. Apesar disso, o Rio dos Sinos teve a depreciação de suas águas acentuada ano a ano pela poluição dos 32 municípios que a compõem. De agrotóxicos, utilizados em áreas rurais, a produtos químicos despejados por indústrias coureiro-calçadistas e de metal-mecânica, situadas em áreas mais urbanas, o rio sempre recebeu muita matéria orgânica proveniente de efluentes domésticos. Esse cenário preocupante uniu diferentes setores sociais para a criação do primeiro Comitê de Bacia Hidrográfica do Brasil: o Comitesinos, criado em 1988 e mantido até hoje em São Leopoldo.

    Pela tragédia ocorrida em 2006 – onde milhares de peixes (e várias outras espécies animais) morreram devido à eutrofização causada pelo esgoto doméstico – surgiu também o Consórcio Público de Saneamento Pró-Sinos, que também contribui para a melhoria das condições do rio através de uma gestão territorial mais ampla. Gestão essa que necessita ainda de medidas de conservação e educação ambiental mais efetivas, de modo que mais alterações ambientais não sejam causadas no rio – como a construção de barragens, atualmente sob estudo de viabilidade.

    Hoje o que muitos estão vendo – com a evacuação de centenas de famílias da região e uma cheia que não ocorria há 48 anos – é mais um pedido do Rio: – Quero meu lugar de volta! – Preciso da mata ciliar para conseguir manter água de qualidade a todas as espécies! – Não quero sacolinhas plásticas “decorando” minhas margens ou alimentando meus animais! – Preciso dos banhados para desaguar e, por meio deles, recarregar os aquíferos que sob mim descansam! – Esse espaço é meu (e por Lei defendido)!

    Talvez seja isso o que tantos (que passam vagarosamente de automóvel sobre as pontes, ou que se debruçam sobre os diques) ouvem ao chegar em suas margens. Muitos que nunca foram antes ver o rio, ou que passavam diariamente sobre este e não o observavam, hoje, espero eu, tem o tempo das águas baixarem (o tempo do Rio) para refletir sobre suas ações como cidadãos e, sobretudo, seres vivos dependentes da água.

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  3. Contando com considerável aporte de dinheiro do governo alemão, em 1974 São Leopoldo dá início a construção do seu sistema de diques. O centro foi a primeira área a ser protegida pelos muros. Demais bairros periféricos tiveram que aguardar vários anos para a ampliação do sistema.

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