O que restará do patrimônio cultural gaúcho no que tange à decoração interna dos templos religiosos?
No que depender da ingerência atual e da ausência de tutela do patrimônio, nada.
A reforma interna da catedral de Vacaria, cujas obras continuam a todo vapor apesar dos inúmeros e bem fundamentados apelos da comunidade, tem se destacado como um caso exemplar desta problemática.
Fica e exposta a completa arbitrariedade a que estão sujeitos os bens tombados apenas a nível municipal - uma vez que os municípios não mantém em seus quadros profissionais com conhecimento específico em conservação e restauração que possam orientar minimamente estas obras, e há omissão geral em submeter-se a ação fiscalizadora do Estado e União como impõe a Constituição.
Também ficam claras consequências graves da falta de educação patrimonial inserida nos currículos das escolas, uma vez que a sociedade segue ignorando o que seja tombamento, restauração e a importância sócio-econômica do patrimônio cultural.
Pinturas murais, escaiolas, ladrilhos hidráulicos, estuques, imagens sacras antigas - detalhes singelos ou requintados das arquiteturas pretéritas, tem sido sistematicamente substituídos por um historicismo cafona, cheio de relevos em gesso e douraturas falsas. Perde-se completamente a ambientação e harmonia dos ambientes, o que parece ser o caso da bela catedral vacariense, cujas colunas internas já foram descaracterizadas com uma nova pintura de questionáveis valores estéticos.
A deformação é muitas vezes irreversível, e deixa a sociedade sem referências coerentemente preservadas da arte sacra. Esperamos que a reforma da Catedral de Vacaria seja paralizada - enquanto há tempo de avaliar corretamente a conservação e restauração de seu conteúdo histórico - e que as descaracterizações possam ser minimamente revertidas. É a única forma de indenizar a sociedade pela perda irreparável, uma vez que boa parte da agressão já foi consumada.
Absurdo o que estão fazendo com a Catedral.
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