É impossível abordar a trajetória da patrimonialização do bairro Hamburgo Velho, em Novo Hamburgo, sem lembrar do artista Ernesto Frederico Scheffel.
O artista (cuja obra pode ser conferida na Fundação Scheffel) promoveu, no início dos anos 80, o que hoje seria chamado de um "coletivo cultural". Muito antes das facilidades de comunicação das redes sociais, Scheffel conseguiu reunir uma rede de voluntários com o 'Movimento de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico', em Hamburgo Velho.
As atividades do grupo aconteciam nas manhãs de domingo, com almoço de confraternização por conta do artista. Os voluntários procederam a pintura de muitas edificações históricas de Hamburgo Velho.
Na época também foram lançadas seis edições de um periódico no formato de jornal denominado "Hamburgerberg", até hoje praticamente a única fonte bibliográfica existente sobre a história do bairro e seu patrimônio.
O movimento encabeçado por Scheffel foi vanguardista no contexto do patrimônio cultural brasileiro, pois antecede o reconhecimento público (o centro histórico, aliás, continua sem nenhum tipo de proteção legal efetiva até hoje). O resultado foi, na época, uma mudança da "cara" do bairro e elevação da auto-estima, uma espécie de revitalização procedida apenas com o trabalho voluntário da sociedade civil.
Este belo exemplo de iniciativa da sociedade civil organizada deveria servir como um ótimo exemplo para os dias atuais. O futuro do bairro tem sido pensado sem a sociedade, e uma série de projetos equivocados pretendem promover a espetacularização e gentrificação do local, arriscando erradicar justamente o que se pretende valorizar.
O Centro Histórico de Hamburgo Velho continua cada vez mais maltratado pelo descaso e por iniciativas equivocadas, que apenas refletem a omissão e a falta de tutela do patrimônio cultural. Parte do local segue em estudo de tombamento pelo IPHAN.
Fonte da imagem: Acervo particular de Gilberto Winter
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